Angela Monteiro*
No
dia 18 de maio comemora-se o Dia da Luta Antimanicomial no Brasil que remete a
um longo histórico de lutas importantes como a I Conferência Nacional de Saúde
Mental em Brasília em 1987, com o tema “Por uma Sociedade sem Manicômios”,
seguido da promulgação da Lei 10.216 - 2001, também nomeada Lei Paulo Delgado e
Lei da Reforma Psiquiátrica, marco legal que trata da proteção dos direitos das
pessoas com transtorno mental, e redireciona o modelo de assistência no país.
Os
chamados manicômios ou hospícios, existiam como espaços de isolamento e
depósito de pessoas com transtornos mentais ou marginalizados pelo sistema,
permanecendo abandonados e excluídos do convívio familiar e social, sofrendo
maus tratos e tratamento desumano, muitos morreram e de lá nunca saíram.
O
Movimento da Reforma Psiquiátrica vem de encontro a essa cultura e lógica
manicomial e excludente defender um modelo de cuidado em liberdade, com base
territorial e comunitária, por equipe multidisciplinar, atualmente realizada
pela Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), que tem o ponto estratégico os
Centros de Atenção Psicossocial (CAPS).
Muitos
avanços foram realizados em 22 anos para reordenação de uma rede de cuidados e
substitutiva ao modelo manicomial, fechamentos de leitos psiquiátricos,
expansão de rede de serviços, um movimento que envolveu trabalhadores,
usuários, familiares, sociedade civil, ministério da saúde, na consolidação de
um política pública de saúde mental, mas sabemos que há muito ainda a ser feito
diante dos desafios da atualidade.
E
por falar em saúde mental, a quem interessa essa luta hoje? Quem está livre ou imune à dor existencial,
ao sofrimento humano e psíquico, aos momentos de crise? Será mesmo “coisa de maluco”, de “gente
doida”?
O
que é ser normal em um mundo com tantas desigualdades, contradições e
injustiças sociais, um mundo que destrói sua própria morada, terra e seus
habitantes em nome da acumulação de capital, lucro e poder. Que loucura é essa?
O que falar da loucura em uma sociedade que reforça o modelo medicalizante abusivo, o diagnóstico que estigmatiza, o silenciamento de vozes e subjetividades?
Quem
acolhe, quem escuta, quem sustenta a crise? De que crise estamos falando? A
crise mundial, do sistema? É uma pista.
Uma
sociedade antimanicomial é antes de tudo uma sociedade que não segrega, não
exclui ou penaliza pessoas que sofrem ou são diferentes.
Antimanicomial
é um posicionamento em defesa da democracia, da liberdade, da inclusão e da
garantia de direitos humanos, do cuidado humanizado e integral.
A
luta é em defesa da vida! E todas as vida importam!
Essa
luta não está ganha e por isso mesmo não podemos parar, é sempre bom lembrar
que trancar não é tratar. Manicômio nunca mais!
*Assistente social -
Trabalhadora do Sus no campo da saúde mental há 26 anos, mestranda do Instituto
de Medicina Social (IMS)-UERJ
Ilustração:
Cacinho
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