domingo, 21 de maio de 2023

Dia da Luta Antimanicomial

 

Angela Monteiro*



No dia 18 de maio comemora-se o Dia da Luta Antimanicomial no Brasil que remete a um longo histórico de lutas importantes como a I Conferência Nacional de Saúde Mental em Brasília em 1987, com o tema “Por uma Sociedade sem Manicômios”, seguido da promulgação da Lei 10.216 - 2001, também nomeada Lei Paulo Delgado e Lei da Reforma Psiquiátrica, marco legal que trata da proteção dos direitos das pessoas com transtorno mental, e redireciona o modelo de assistência no país.

Os chamados manicômios ou hospícios, existiam como espaços de isolamento e depósito de pessoas com transtornos mentais ou marginalizados pelo sistema, permanecendo abandonados e excluídos do convívio familiar e social, sofrendo maus tratos e tratamento desumano, muitos morreram e de lá nunca saíram.

O Movimento da Reforma Psiquiátrica vem de encontro a essa cultura e lógica manicomial e excludente defender um modelo de cuidado em liberdade, com base territorial e comunitária, por equipe multidisciplinar, atualmente realizada pela Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), que tem o ponto estratégico os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS).

Muitos avanços foram realizados em 22 anos para reordenação de uma rede de cuidados e substitutiva ao modelo manicomial, fechamentos de leitos psiquiátricos, expansão de rede de serviços, um movimento que envolveu trabalhadores, usuários, familiares, sociedade civil, ministério da saúde, na consolidação de um política pública de saúde mental, mas sabemos que há muito ainda a ser feito diante dos desafios da atualidade.

E por falar em saúde mental, a quem interessa essa luta hoje?  Quem está livre ou imune à dor existencial, ao sofrimento humano e psíquico, aos momentos de crise?  Será mesmo “coisa de maluco”, de “gente doida”?

O que é ser normal em um mundo com tantas desigualdades, contradições e injustiças sociais, um mundo que destrói sua própria morada, terra e seus habitantes em nome da acumulação de capital, lucro e poder. Que loucura é essa?

O que falar da loucura em uma sociedade que reforça o modelo medicalizante abusivo, o diagnóstico que estigmatiza, o silenciamento de vozes e subjetividades?

Quem acolhe, quem escuta, quem sustenta a crise? De que crise estamos falando? A crise mundial, do sistema? É uma pista.

Uma sociedade antimanicomial é antes de tudo uma sociedade que não segrega, não exclui ou penaliza pessoas que sofrem ou são diferentes.

Antimanicomial é um posicionamento em defesa da democracia, da liberdade, da inclusão e da garantia de direitos humanos, do cuidado humanizado e integral.

A luta é em defesa da vida! E todas as vida importam!

Essa luta não está ganha e por isso mesmo não podemos parar, é sempre bom lembrar que trancar não é tratar. Manicômio nunca mais!

 

*Assistente social - Trabalhadora do Sus no campo da saúde mental há 26 anos, mestranda do Instituto de Medicina Social (IMS)-UERJ

 

Ilustração: Cacinho

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