Luis Carvalho
Os jornalistas Steven Levitsky e
Daniel Ziblatt produziram uma obra de suma importância para se pensar a
democracia e a relação espúria que pode ocorrer devido ao desrespeito às
instituições e a corrupção do poder político pela iniciativa privada. A obra é
intitulada “Como as democracias morrem”.
A inspiração do livro orbita
muito em torno da figura de Donald Trump e sua postura polêmica com relação à
condução da presidência dos EUA e de atitudes que entram, minimamente, em
desacordo com algumas questões envolvendo as instituições republicanas.
Não é só sobre Trump que a obra
versa. Vários elementos envolvendo países das diversas localidades mundiais são
relacionados. Contudo, a preocupação visou alertar para o perfil de pessoas
“outsider” que se lançam na política prometendo mudanças e transformações que
nunca ocorrerão.
Os autores destacam que é
importante que as instituições democráticas estejam bem consolidadas para que
não se rompa com a ordem e se caia em regimes de exceção. Sendo assim, a
solidez institucional é elemento preponderante para manter a ordem democrática
e assegurar a soberania popular e o respaldo constitucional para determinadas
questões.
Quando se trata de Brasil estamos
em situação delicada no que tange a essa questão, uma vez que, a população
(média geral) possui baixa instrução e é facilmente levada a acreditar em
notícias inverossímeis sobre políticos e posturas políticas. Além disso, há
total falta de informação sobre a função dos poderes. De forma que é frequente
observar a ilação a determinadas atitudes que são incongruentes com as funções.
A vigilância política e a defesa
das instituições deve ser feita e estimulada pela população, pois em tese o
poder emana do povo e é exercido por meio dos representantes. É premente estimular
a participação pública nos debates e nas decisões que envolvem a população de
forma mais constante.
Outro elemento a ser destacado é
o envolvimento da política com o poder financeiro. Determinados grupos tendem a
cooptar políticos para operar em prol de seus interesses. Isso ocorre por meio
de diversos “lobbies” e é comum em várias democracias. Essa é uma lacuna
herdada das revoluções burguesas e que formataram modelos democráticos da mesma
natureza. Em tese os sistemas herdeiros dessa corrente operam em favor da
propriedade privada e não dos interesses populares.
Na obra Levitsky e Ziblatt não
chegam nesse ponto da crítica, pois defendem a Constituição estadunidense como
uma espécie de salvaguarda da cidadania. No que diz respeito às democracias nos
países subdesenvolvidos a cidadania é garantida, porém o acesso às informações
e garantia de alguns direitos passa por lugares de privilégio sejam sociais ou
financeiros e constituem entraves para a vivencia plena de direitos básicos.
*Filósofo
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