segunda-feira, 3 de maio de 2021

As limitações do mercado para o jovem

 Escassa oferta de vagas, falta de experiência e pandemia afastam cada vez mais a juventude dos postos de trabalho

Por Ana Carolina Angelo

Jovens de 18 a 24 anos ocupam 29,4% da taxa de desempregados, segundo os dados do último trimestre de 2020 da PNAD Contínua, e enfrentam as desilusões do sistema econômico. Entrar no mercado de trabalho é uma tarefa árdua, em meio a uma crise sanitária com políticas públicas insatisfatórias, o peso se transforma em fardo, agravando a situação, além de reforçar o desamparo aos grupos minoritários.



Com critérios conflitantes, o mercado busca por uma persona específica, um jovem com certo nível de experiência profissional. Ocasionalmente, contudo, oferta a possibilidade de ingresso para aqueles que não possuem prática. Mesmo seguindo todas as recomendações para adquirir um emprego, com suas habilidades e formações descritas no currículo, a ausência de experiência limitou minha inserção no sistema trabalhista. Afinal, alguém só se torna elegível ao mercado de trabalho quando esse já é reconhecido pelo próprio.

Quando ocorre a integração da juventude nesse espaço surgem outros dilemas. Ao ocupar um cargo, a inexperiência prática ressoa novamente. Dessa vez, os contratantes se aproveitam da situação para designar funções extras, efetuar cobranças adicionais, estender jornadas, entre diversos outros casos. Contribuindo, inclusive, com a normalização de processos repetidos durante toda vida profissional. Isso resulta em desgastes emocionais que ressignificam as ambições de carreira do jovem.

No âmbito acadêmico, os estágios seguem esses padrões e também podem funcionar sem remuneração. Como alguns cursos impõem obrigatoriedade nessa atividade extracurricular para finalizar o ensino universitário, as empresas contratam o estudante ofertando carga horária e experiência. Inclusive remunerado, esse relacionamento não se configura vínculo empregatício, sendo amparado pelo Termo de Compromisso de Estágio (TCE) e excluindo a Consolidação das Leis de Trabalho (CLT). Frustrando os universitários, toda estrutura auxilia nas práticas insalubres mencionadas.

Acompanhada de estigmas, a trajetória da juventude no mercado de trabalho, frequentemente, é reduzida à imaturidade. Ocupar delimitações consideradas subalternadas não configura um problema, porém havendo ambições maiores, os “superiores” se prontificam a rotular qual o lugar designado ao jovem. Ao contrário do que afirmam, ser estagiário ultrapassa servir café, fazer cópias de documentos, escrever a ata, etc. Resumindo, somos vistos como “quebra-galho” da empresa.

Em meio à crise

Uma complicação recorrente durante a pandemia de Covid-19 é a redução de empregos disponíveis. Em um ritmo de desistência, os jovens recém-inseridos no mercado observam as oportunidades se esgotando, desestimulando-os a continuar à procura de uma vaga. Para piorar o contexto, o desemprego acompanha o abandono escolar. Por conta da escassez financeira, diversos estudantes são forçados a abdicar do ensino superior. Esse cenário ampara o pensamento de uma realidade desfavorável e contínua.

Na tentativa de contornar essa conjuntura empregatícia, a prevenção encontrada são os subempregos. Com o crescimento da demanda por delivery, os entregadores enfrentam 12 horas ou mais de serviço em troca de um salário mínimo. Em um relatório de 2019 da Aliança Bike, 75% deles possuem até 27 anos, ou seja, desamparados pelo judiciário trabalhista, vários jovens assumem horas consecutivas de serviço, vários deslocamentos de trajeto em uma bike ou a pé. E ainda há quem romantize a “flexibilidade” e “determinação” presente nessa circunstância precária.

Futuro promissor?

Desmotivada com as limitações profissionais, a juventude convive com as vulnerabilidades existentes no sistema econômico. Coabitando com esse caos sociopolítico intensificado pela doença do coronavírus, não conseguimos visualizar muito adiante, mas nada parece narrar um amanhã favorável. Estranhamente, podemos estar vivendo como nossos pais...