Luis Carvalho*
Primeiramente devemos nos lembrar
que um dos grandes protagonistas de Palmares, quilombo situado na Serra da
Barriga (AL), foi Zumbi. O feriado em alusão à sua pessoa é parte de um
movimento que inclui homens e mulheres (Dandara, por exemplo) que são
igualmente importantes para pensarmos na importância do tema.
Quando celebramos a memória e
resistência do 20 de novembro devemos pontuar algumas coisas. Uma delas diz
respeito à inclusão que era oferecida nos quilombos. Algumas pessoas em
situação desfavorável (mestiços, indígenas, entre outros) integravam o
quilombo. Nesse sentido, a memória tem relação com a inclusão de pessoas em
situação desfavorável que puderam ser assistidas pela experiência dos
quilombos.
Há também a importância em se
afirmar a periferia do sistema que organizada consegue oferecer alternativas de
sobrevivência às pessoas. Os quilombos, além da agricultura de subsistência, ofereciam
a possibilidade de negociação do excedente de produção. Sendo assim, apontam
para uma economia alternativa, inclusiva e vinda da periferia.
Não se pode deixar de mencionar a
questão racial bom que envolve o tema, uma vez que a experiência de Palmares é
uma experiência negra, de afirmação da potência da negritude num Brasil
escravista e que, passados alguns anos da abolição formal da escravidão,
carrega traços do sistema de dominação de corpos e aviltamento de mentes, que
se faz sentir em várias localidades do país.
Nesse sentido, o Dia da Consciência
Negra precisa ser pontuado como uma celebração, memória e reinvindicação de
direitos que ainda não foram efetivados de forma plena, sobretudo quando se
trata da população negra.
A história de Resende está
diretamente ligada à questão da escravidão, uma vez que a cidade era rota do
escoamento do ouro e posteriormente foi parte ativa no ciclo do café.
O historiador (negro) resendense
(de coração) Claudionor Rosa dizia que no pós-abolição os negros passaram a
habitar bairros como Lavapés e posteriormente Vicentina e Santo Amaro. Alguns
ainda no período da escravidão foram habitar no Quilombo Sant’Ana (Quatis) na
fronteira com a região da Vila da Fumaça, onde habitavam os indígenas Puris.
Atualmente, pensar no Dia da Consciência
Negra é pensar em espaços e iniciativas de resistência dos valores negros na
sociedade. Nesse sentido, destaco três (poderiam ser muitos mais) personagens
da atualidade que lutam por espaços negros em Resende, no Sul Fluminense.
Ubiratan Oliveira (DJ Birinha) – Atua como DJ de charme, um ritmo
ligado à tradição negra e é integrante de coletivos negros que incentivam a
participação e inserção social negra na sociedade resendense. Além disso, é
militante político e tem ações voltas aos direitos de trabalhadores. Um
importante nome da contemporaneidade.
Sônia Freitas – professora e atuante em várias pautas do movimento negro. Ultimamente tem resgatado a cultura do jongo. Além disso, atua em palestras e iniciativas coletivas visando a educação e divulgação do legado negro na sociedade resendense.
Cláudio Freitas – mestre de capoeira e DJ. Atua no movimento negro há mais de três décadas. Um incansável lutador da cultura negra e valorização das tradições negras em Resende. Suas intervenções na cultura, arte e esporte possuem caráter amplo socioeducativo e cultural.
Obviamente que poderiam constar vários outros nomes nessa lista, contudo, citando esses entendemos que colaboramos para o fortalecimento de uma memória coletiva. Memória essa que diz muito sobre a tradição negra.
A luta negra é uma luta
histórica, que se inicia antes de nós e (infelizmente) não terminará conosco,
pois as próximas gerações terão muito o que lutar. Contudo, temos em mente que
só o coletivo nos salvará.
*Filósofo