sábado, 10 de abril de 2021

Informação em saúde salva vidas, desinformação mata



Na pandemia causada pelo novo coronavírus, um grave problema do SUS veio à tona, a (des)informação em saúde. A Informação em Saúde é um direito do usuário, quando diz respeito à sua própria saúde e também quando trata da coletividade. Assim, informação em saúde não é um privilégio, mas um direito conquistado. Ela configura em última instância a relação Estado/sociedade enquanto espaço de decisão e de negociação de interesses coletivos.

Durante o curso de 2020 essa relação Estado/sociedade mostrou-se deteriorada. O mais simbólico exemplo foi dado pelo governo bolsonaro com o boicote aos dados apresentados pelo Ministério da Saúde no início da pandemia em março, depois com a alteração do horário que as informações estariam disponíveis para que não fosse apresentado nos telejornais noturno e, por fim, com a decisão covarde de não mais divulgar dados sobre o número de mortes e de casos diários, como fazem as nações civilizadas do mundo. Como sabemos, os números que possuímos da pandemia no Brasil são apresentados por um consórcio de empresas de comunicação privadas que consolidam os números enviados pelas secretarias municipais de Saúde.

Esse comportamento obedece a uma orientação: se há uma pandemia sem controle, a melhor forma de tranquilizar a população é esconder os números ao invés de enfrentar a evolução da doença sobre a população. Essa decisão política de esconder números da doença não é só vergonhosa, é criminosa, uma vez que colocam pessoas expostas sem que se saiba a verdadeira situação sanitária do território, seja município, estado ou país. Sem um norte dado pelo governo bolsonaro, os mais de 5570 municípios ficaram à deriva e expondo números sem qualquer padronização ou orientação mais balizada.

Cenário da pandemia em Resende

Isto posto, diversas prefeituras tem apresentado números que são difíceis de entender. No caso da prefeitura de Resende, o Conselho Municipal de Saúde apresentou às autoridades locais uma sugestão de enfrentamento à pandemia com a criação de um gabinete de crise composto por diversos atores e a criação de um painel de indicadores que fosse traduzido da melhor forma para a população. Até o momento não foi feito e os números da PMR/SMS são contraditórios. Vamos a eles:

  1. Dados apresentados devem ter a possibilidade de exportação em planilhas de Excel/CSV para que possam ser trabalhados, tanto para análise quanto para publicações de artigos para sociedade acadêmica. Não há essas possibilidade;

  2. Mais grave e inquietante: segundo o gráfico abaixo, ao contrário de todo o país, a linha de tendência de contaminação, em vermelho, cai em Resende. Por exemplo, dia 13/03 a cidade só teve 1 caso confirmado e que de janeiro até hoje o número de casos cai vertiginosamente, ao contrário de todo Brasil;


Sendo verdade qual ação efetiva a PMR/SMS realizou para que esse milagre acontecesse em Resende enquanto o resto país derrete em função da Covid19? Seria importante estudar isso!

  1. No gráfico abaixo mostra o bairro da Cidade da Alegria inteira, mais de 25.000 pessoas, mas só 14 casos ativos com covid atualmente?


  1. Como os dados não podem ser exportados para análise, farei a análise no “olhometro”: o número de óbitos/dia tem aumentado na faixa entre novembro de 2020 até março de 2021 se comparado com março de 2020 até outubro de 2020. Reparem que há mais linhas condensadas no período citado acima. Repare: se o número de casos despencou como mostrado no item 2, como pode o número de mortes ter aumentado? No mundo o número de mortes só aumenta se o número de casos aumenta também, em uma relação direta, mas como em Resende isso se dá de forma inversa?


Deparamos-nos com um dilema: ou a informação em saúde, direito da população sobre a padrão de vida da comunidade no território está sendo levado de forma desleixada e deixando a população e atores sociais as escuras ou temos um Resende uma cepa nova do vírus, uma variante do Vale do Café, que não foi pesquisada ainda. A resposta eu deixo com vocês!


Vamos acender o pavio do multiculturalismo nas expressões artísticas?


Oiê… então, se te pergunto sobre um escritor negro, quanto tempo demoraria pra lembrar de Machado de Assis? E se te pergunto se conhece algum artista plástico negro na sua cidade, você saberia dizer? Somos um povo de misturas, quem nunca ouviu que o Brasil é feito de misturas e contrastes? É sim, mas será que sabemos mesmo identificar e valorizar quem somos?

Esse é um convite, para pensarmos na arte e na cultura e toda a sua diversidade, bem como nas suas formas de comunicação.

Cultura é fenômeno humano, todo grupo humano produz cultura e não existe melhor ou pior, é um produto da diversidade dos povos.

E aí entra nosso foco: o multiculturalismo! Uma ferramenta para o entendimento dessas culturas, valorização e proteção de suas identidades culturais


Proteção? Como assim?

Bom, é aqui que o pavio começa a queimar...

A troca de saberes é fundamental para construção de um povo. Mas sem uma proteção à identidade cultural de um grupo, o capitalismo e as ideologias dominantes, pasteurizam as culturas, passando como um trator homogeneizando tudo e todos.

Somos invadidos por vários elementos dos quais não fazemos parte, passamos a acreditar que aquela música, dança, história do povo, cinema e até o corte de cabelo são mais interessantes que os nossos e assim perdemos nossas referências. Por isso a necessidade de proteção.

Nos inspirando e bebendo em Paulo Freire - para valorizar o senso comum é necessário promover encontros e somente chego a ser eu mesmo quando os demais chegam a ser eles mesmos. E somente com diálogos e trocas isso é possível. É a relação de empatia para combater o que é desamoroso, autossuficiente e arrogante.

Fazemos sim essa mistura de contrastes, mastigando tudo como no Manifesto Antropofágico da Semana da Arte de 1922, mas antes devemos ter consciência das nossas cores, cheiros, gostos e talentos. Quando se pensa na arte e na cultura, é necessário pensar nas diferenças, mas principalmente nas defesas delas. Caso contrário,  nessa miscelânea, vozes são silenciadas, culturas são desmerecidas e trabalhos são esquecidos.  Não por críticas de qualidade, mas na verdade por serem produzidos por culturas oprimidas como por exemplo negros, mulheres, indígenas, em que até o próprio indivíduo não reconhece seu valor cultural.

Para aumentar ainda mais esse fogo no pavio, o tal do país das misturas é reconhecido também pela evidente falta de representatividade nas artes das minorias. Em uma pesquisa feita pelo projeto Negrestudo, em 2020, em SP, dos 619 nomes de artistas em exposição, apenas 46 não eram brancos; desses, 27 eram negros, apenas 4 mulheres. Apenas uma artista era indígena e não era brasileira.

Outro pavio que tem muito o que queimar se refere aos povos nativos e escancara essa falta de visibilidade cultural. Povos que tradicionalmente se comunicam pela arte através de pinturas, cerâmica, adornos, cestarias… não são valorizados devidamente. São mão de obra explorada de artesanato para gringos e servem para fantasia de carnaval. 

Na tentativa de melhorar esse cenário, surgem os institutos, movimentos e coletivos para resgatar e fornecer visibilidade para a arte de povos originários, mulheres, negros, trans e tudo mais que saibam se respeitar e valorizar as diferentes misturas de beleza que somos.

Essa é a ideia desse espaço. Acender esse pavio de divulgação, fomentar essas discussões pela valorização das artes feitas aqui, na região e no mundo, com foco no multiculturalismo.

Eu, como um exemplo dessa mistura toda, fruto da união de guarani mbá com italiano, negro, espanhol e árabe, mulher, artista visual, ceramista, feminista, viajante, militante de algumas bandeiras polêmicas, acendedora de pavio e muito apaixonada por arte, faço esse convite para descobrirmos juntos, por aqui, todas as manifestações do multiculturalismo.

sexta-feira, 9 de abril de 2021

Acendedoras e acendedores de pavio uni-vos!


De BBB ao programa da Ana Maria Braga; de lives com conteúdos acadêmicos aos feeds do Instagram, Facebook e Twitter, as insistentes, e equivocadamente chamadas, “pautas identitárias” estão em todo lugar causando muito reboliço.

Mas o que vem a ser isso que sacode tanto as redes sociais e anti-sociais? Pois bem, este é o pavio que desejo acender por aqui.

Falar sobre gênero, raça e classe é falar sobre aquilo que estrutura a sociedade em que vivemos - uma sociedade patriarcal, ou seja, que se organiza sob o domínio masculino cisheteronormativo1 e que é informada por raça e classe. Portanto, não se trata de discutir quem é machista, misógino, racista ou classista e quem não é para apontar o dedo, pois a verdade é que somos todas e todos, homens e mulheres, cis e trans, brancos e negros, pobres, ricos e classe média, constituídos, enquanto sujeitos, a partir destas opressões. Sem escapar ninguém! A diferença reside em ter consciência ou não disso e de adotar postura antirracista, anticlassista e antisexista. Mas não só isso.


Homem universal”

O professor Silvio de Almeida (2018), em “O que é racismo estrutural?”, explica sobre o surgimento do “homem universal”, esta suposta representação da humanidade materializada em um homem cis, hétero, branco e europeu, resultado das relações de poder do período da expansão mercantilista e da descoberta do novo mundo, em meados do século XVI. É neste contexto que emerge a ideia de um “homem” moderno, se opondo à ideia de pertencimento a uma comunidade específica, até então vigente. É o período onde surgem reflexões sobre a unidade e a multiplicidade humana.

O colonialismo é o nome da experiência que visava levar as “maravilhas” do Estado liberal e do mercado, portanto, “da civilização”, aos povos “primitivos”. Levar os valores civilizatórios ao novo mundo era a “missão” dos iluminados europeus. Mas a experiência da colonização se mostrou absolutamente antiliberal; um processo de espoliação violento.

Ficou evidente que liberdade, igualdade e fraternidade, lemas da Revolução Francesa, que fundaram a ideia de Estado Moderno, não passavam de um discurso vazio que só servia a poucos privilegiados. Com a colonização nasceu também um processo de desumanização dos povos não europeus, retratados como bestiais, primitivos, degenerados, sem história. Destes processos nasceram as práticas discriminatórias e o genocídio que marcaram a história do nosso país.

Escravidão

Portanto, não há como falar em raça sem discutir gênero e classe, sobretudo no Brasil, vez que são opressões que nasceram do paradigma colonizador do sujeito universal: homem hétero, branco e europeu. Da mesma forma como não podemos discutir o país em que vivemos, e avançar em análises mais profundas, desconsiderando a escravidão como violência fundadora - escravidão que é parte do processo de expansão do capitalismo.

Simone de Beauvoir (1970), em “O segundo sexo”, vai questionar o que é “ser mulher” e, ao fazê-lo, questiona também o que é “ser homem”. A autora abriu um campo imenso para inúmeras teorias e ideias que vão surgir a partir daí. Antes dela, Soujorner Truth, em seu célebre discurso2, questionou: “não sou eu uma mulher?”, referindo-se à sua condição de mulher negra. Ao fazê-lo, denunciou que tudo aquilo pelo que protestavam as mulheres brancas de classe média não passava de privilégios de raça e classe e que, portanto, não poderiam falar e nome de todas as mulheres, vez que as mulheres negras não estavam incluídas em suas pautas.

Como se vê, não dá pra discutir gênero, raça e classe isoladamente, né? Nem tampouco descolados da realidade concreta em que vivemos – sob a ordem do capital. Pois é sobre isso que iremos dialogar aqui, neste espaço. Temos um longo caminho pela frente se quisermos compreender o Brasil e este estado de coisas bolsonarista que nos assola. E sem compreender a realidade em que vivemos não conseguiremos transformá-la.

Bora acender este pavio juntos e juntas?


Referência bibliográfica:

AKOTIRENE, Carla. Interseccionalidade. São Paulo: Sueli Carneiro; Pólen, 2019. Coleção Feminismos Plurais. Coord. Djamila Ribeiro.

ALMEIDA, Silvio Luiz de. O que é racismo estrutural? Belo Horizonte (MG): Letramento, Col. Feminismos Plurais, 2018, p. 20.

BEAUVOIR, Simone. O segundo sexo: fatos e mitos. São Paulo: Difusão Européia do Livro. 4. ed. 1970.

1 O termo cisheteronormativo ou cisheteropatriarcado remete ao “sistema político modelador da cultura e dominação masculina, especialmente contra as mulheres. É reforçado pela religião e família nuclear que impõem papéis de gênero desde a infância baseados em identidades binárias, informadas pelas noções de homem e mulher biológicos, sendo as pessoas cisgêneras aquelas não cabíveis, necessariamente, nas masculinidades e feminilidades duas hegemônicas. Consultar ‘Orientações sobre identidade de gênero: conceitos e termos’, um guia técnico sobre pessoas transexuais, travestis e demais transgêneros formulado pela pesquisadora Jaqueline Gomes de Jesus”. (AKOTIRENE, 2019, p.118, item 3).

2 Sojourner Truth (1797-1883) foi uma ativista norte americana dos direitos das mulheres. Uma escrava alforriada, que ficou registrada na história com um discurso que proferiu na Convenção de Mulheres, em 1851, Ohio, nos EUA. No seu célere discurso disse: “Aquele homem ali diz que as mulheres precisam ser ajudadas a entrar em carruagens, e erguidas para passar sobre valas e ter os melhores lugares em todas as partes. Ninguém nunca me ajudou a entrar em carruagens, a passar por cima de poças de lama ou me deu qualquer bom lugar! Eu não sou mulher? Olhem pra mim! Olhem pro meu braço! Tenho arado e plantado, e juntado em celeiros, e nenhum homem poderia me liderar! Eu não sou mulher? Posso trabalhar tanto quanto e comer tanto quanto um homem - quando consigo o que comer - e agüentar o chicote também! Eu não sou mulher? Dei à luz treze filhos, e vi a grande maioria ser vendida para a escravidão, e quando eu chorei com minha dor de mãe, ninguém, a não ser Jesus me ouviu! Eu não sou mulher? (...)”. Depois que conquistou sua liberdade, em 1827, Sojourner tornou-se uma conhecida oradora abolicionista. O discurso completo se encontra disponível na internet em diversos sites, entre eles no https://www.geledes.org.br/e-nao-sou-uma-mulher-sojourner-truth onde pesquisei. Acesso em: 08 de março de 2021.


O Balanço de um Desastre

 


A pandemia causada pelo novo coronavirus no Brasil, iniciada há 12 meses atrás, em março de 2020, já matou mais de 280 mil pessoas. Podemos fazer um rápido balanço da caminhada trágica que fizemos até aqui nesse último ano.

No início da pandemia, em um cenário distante das vacinas atualmente disponíveis, poderíamos ter olhado experiências exitosas mundo afora, que salvaram milhares de vidas, tais como:

1-        Criação de uma coordenação nacional para enfrentamento da pandemia;

2-        Apoio governamental às camadas mais frágeis do tecido social e determinados setores da economia como pequenos comerciantes;

3-        Testagem em massa para rastreio da doença;

4-        Monitoramento dos casos confirmados e suspeitos;

5-        Ampliação da rede hospitalar para tratamento de Covid19;

6-        Incentivo a população para o uso de mascaras e álcool gel;

7-        Em casos extremos ferramentas como a restrição drástica da circulação de pessoas.

O Brasil historicamente tem expertise em planos nacionais de imunização e conta com uma rede capilarizada para efetivação de estratégias atomizadas de vacinação em larga escala. O SUS conta com 44 mil equipes de saúde em mais de 5570 municípios Brasil afora, assim caberia ao Ministério da Saúde a compra das vacinas, definição de um cronograma, haja vista que a rede de saúde para executar a vacinação já está dada, pronta para tal ação. Vale lembrar que recentemente o SUS vacinou 100 milhões de brasileiros em 3 meses apenas contra a H1N1. Em casos de pandemia deve ser feito um esforço de guerra para enfrentamento desse inimigo invisível. Mas o que foi feito desde março de 2020 no Brasil?

Em nome de uma ideologia nada racional e apoiada uma visão deformada da realidade política e social o governo federal não fez compra de testes suficientes (o Brasil foi um dos países que menos testou no mundo), faz jogo de empurra no combate a Covid dizendo que a responsabilidades era de prefeitos e governadores, sabotou medidas de uso de máscaras, de restrição da circulação de pessoas, fez o papel de um verdadeiro mercador da morte vendendo a ilusão sobre um milagroso spray e até o incentivo ao uso de remédio sem qualquer eficácia para combate ao novo coronavírus, como Cloroquina e Ivermectina.

Temos hoje 280 mil mortos, chegaremos a 300 mil mortes em questão de dias e com isso o Brasil se tornou um cemitério a céu aberto, uma enorme cova, com os sobreviventes da desastrada condução da pandemia vendo seus empregos e rendas virarem pó. Jair Bolsonaro não é só um péssimo presidente, é um também um bárbaro genocida. Esperamos assim que além da contagem de nossos mortos, muitos deles familiares e amigos, não apenas a história julgue o Governo Bolsonaro, mas também tribunais nacionais e internacionais.