sábado, 10 de abril de 2021

Vamos acender o pavio do multiculturalismo nas expressões artísticas?


Oiê… então, se te pergunto sobre um escritor negro, quanto tempo demoraria pra lembrar de Machado de Assis? E se te pergunto se conhece algum artista plástico negro na sua cidade, você saberia dizer? Somos um povo de misturas, quem nunca ouviu que o Brasil é feito de misturas e contrastes? É sim, mas será que sabemos mesmo identificar e valorizar quem somos?

Esse é um convite, para pensarmos na arte e na cultura e toda a sua diversidade, bem como nas suas formas de comunicação.

Cultura é fenômeno humano, todo grupo humano produz cultura e não existe melhor ou pior, é um produto da diversidade dos povos.

E aí entra nosso foco: o multiculturalismo! Uma ferramenta para o entendimento dessas culturas, valorização e proteção de suas identidades culturais


Proteção? Como assim?

Bom, é aqui que o pavio começa a queimar...

A troca de saberes é fundamental para construção de um povo. Mas sem uma proteção à identidade cultural de um grupo, o capitalismo e as ideologias dominantes, pasteurizam as culturas, passando como um trator homogeneizando tudo e todos.

Somos invadidos por vários elementos dos quais não fazemos parte, passamos a acreditar que aquela música, dança, história do povo, cinema e até o corte de cabelo são mais interessantes que os nossos e assim perdemos nossas referências. Por isso a necessidade de proteção.

Nos inspirando e bebendo em Paulo Freire - para valorizar o senso comum é necessário promover encontros e somente chego a ser eu mesmo quando os demais chegam a ser eles mesmos. E somente com diálogos e trocas isso é possível. É a relação de empatia para combater o que é desamoroso, autossuficiente e arrogante.

Fazemos sim essa mistura de contrastes, mastigando tudo como no Manifesto Antropofágico da Semana da Arte de 1922, mas antes devemos ter consciência das nossas cores, cheiros, gostos e talentos. Quando se pensa na arte e na cultura, é necessário pensar nas diferenças, mas principalmente nas defesas delas. Caso contrário,  nessa miscelânea, vozes são silenciadas, culturas são desmerecidas e trabalhos são esquecidos.  Não por críticas de qualidade, mas na verdade por serem produzidos por culturas oprimidas como por exemplo negros, mulheres, indígenas, em que até o próprio indivíduo não reconhece seu valor cultural.

Para aumentar ainda mais esse fogo no pavio, o tal do país das misturas é reconhecido também pela evidente falta de representatividade nas artes das minorias. Em uma pesquisa feita pelo projeto Negrestudo, em 2020, em SP, dos 619 nomes de artistas em exposição, apenas 46 não eram brancos; desses, 27 eram negros, apenas 4 mulheres. Apenas uma artista era indígena e não era brasileira.

Outro pavio que tem muito o que queimar se refere aos povos nativos e escancara essa falta de visibilidade cultural. Povos que tradicionalmente se comunicam pela arte através de pinturas, cerâmica, adornos, cestarias… não são valorizados devidamente. São mão de obra explorada de artesanato para gringos e servem para fantasia de carnaval. 

Na tentativa de melhorar esse cenário, surgem os institutos, movimentos e coletivos para resgatar e fornecer visibilidade para a arte de povos originários, mulheres, negros, trans e tudo mais que saibam se respeitar e valorizar as diferentes misturas de beleza que somos.

Essa é a ideia desse espaço. Acender esse pavio de divulgação, fomentar essas discussões pela valorização das artes feitas aqui, na região e no mundo, com foco no multiculturalismo.

Eu, como um exemplo dessa mistura toda, fruto da união de guarani mbá com italiano, negro, espanhol e árabe, mulher, artista visual, ceramista, feminista, viajante, militante de algumas bandeiras polêmicas, acendedora de pavio e muito apaixonada por arte, faço esse convite para descobrirmos juntos, por aqui, todas as manifestações do multiculturalismo.

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