quarta-feira, 15 de novembro de 2023

Eleições na Argentina e a aproximação com o Brasil*

 Oscar Soto*

A decisão de Lula de apoiar Sergio Massa tem sido uma novidade no processo eleitoral argentino dado que o candidato Javier Milei é o que mais se aproxima da experiência Bolsonaro no Brasil e é muito importante pensar o futuro da região e do Mercosul com dois atores fundamentais como Argentina e Brasil.

Refiro-me aqui a Javier Milei - o candidato da extrema-direita Argentina - que já se manifestou repetidamente contra a possibilidade de dar continuidade ao Mercosul bem como de ter ligações com países latino-americanos e até com a China porque são, segundo ele, economias comunistas.

O apoio do Brasil à proposta da União pela Pátria é, sem dúvida, um elemento importante quando se pensa em equilíbrios internacionais. A Argentina encontra-se perante uma situação extrema com um candidato sui generis, sem partidos políticos, sem história política anterior, com um discurso marginal que procura dolarizar a economia, extinguir o Banco Central, privatizar a saúde, as ruas, a água, o mar, educação, em suma, retirar todos os subsídios possíveis da economia além de romper relações com países da região e uma série de propostas que chegam até à venda de órgãos e à comercialização de bebês.

 Esse é Javier Milei e a sua proposta política ultraliberal é uma aposta no precipício. Nesse sentido, a Argentina se depara com a possibilidade de dar continuidade aos 40 anos de democracia que se comemoram este ano, ou pelo contrário, eleger através do voto popular um neofascista com características místicas além de ter um forte desequilíbrio emocional e até mesmo dizer algum de ordem mental.

Penso que é importante pensar nas alianças latino-americanas e na possibilidade de nutrir o grande país com governos populares e não com experiências como as de Bolsonaro, Trump e muitas outras que causaram muitos danos tanto às economias nacionais como ao intercâmbio político e económico, incluindo cultural na América Latina

*Oscar Soto -  politólogo - Universidad Nacional de Cuyo


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O texto do amigo Oscar é assertivo e destaca aspectos importantes da relação dos países latino-americanos e ascensão de uma ultradireita mundial comprometida com o desmonte do Estado; fim dos direitos trabalhistas; precarização do trabalho e rompimento com blocos econômicos importantes para os países emergentes a exemplo do BRIC´s e Mercosul.

O fortalecimento de países emergentes e não submissão às grandes potências mundiais capitalistas (sobretudo Estados Unidos) é um tema que tem direcionado debates e pautado relações econômicas atuais. A questão de Milei, Macri , Trump, Bolsonaro e tantos candidatos considerados outsiders ascendendo na política mundial pode representar o fim do modelo democrático tal qual conhecemos, pois as propostas veiculadas são de se aproveitar do regime para se eleger e abandoná-lo em seguida após a eleição.

Além disso, as bravatas proferidas em tempos de campanha não chegam perto de se concretizar na prática. Infelizmente algumas pessoas deixam se levar por propostas que não são verossímeis e tandem a ameaçar a democracia

Luis Carvalho - filósofo

* Tradução – Luis Carvalho.

segunda-feira, 13 de novembro de 2023

Como as democracias morrem

 


Luis Carvalho

 


Os jornalistas Steven Levitsky e Daniel Ziblatt produziram uma obra de suma importância para se pensar a democracia e a relação espúria que pode ocorrer devido ao desrespeito às instituições e a corrupção do poder político pela iniciativa privada. A obra é intitulada “Como as democracias morrem”.

A inspiração do livro orbita muito em torno da figura de Donald Trump e sua postura polêmica com relação à condução da presidência dos EUA e de atitudes que entram, minimamente, em desacordo com algumas questões envolvendo as instituições republicanas.

Não é só sobre Trump que a obra versa. Vários elementos envolvendo países das diversas localidades mundiais são relacionados. Contudo, a preocupação visou alertar para o perfil de pessoas “outsider” que se lançam na política prometendo mudanças e transformações que nunca ocorrerão.

Os autores destacam que é importante que as instituições democráticas estejam bem consolidadas para que não se rompa com a ordem e se caia em regimes de exceção. Sendo assim, a solidez institucional é elemento preponderante para manter a ordem democrática e assegurar a soberania popular e o respaldo constitucional para determinadas questões.

Quando se trata de Brasil estamos em situação delicada no que tange a essa questão, uma vez que, a população (média geral) possui baixa instrução e é facilmente levada a acreditar em notícias inverossímeis sobre políticos e posturas políticas. Além disso, há total falta de informação sobre a função dos poderes. De forma que é frequente observar a ilação a determinadas atitudes que são incongruentes com as funções.

A vigilância política e a defesa das instituições deve ser feita e estimulada pela população, pois em tese o poder emana do povo e é exercido por meio dos representantes. É premente estimular a participação pública nos debates e nas decisões que envolvem a população de forma mais constante.

Outro elemento a ser destacado é o envolvimento da política com o poder financeiro. Determinados grupos tendem a cooptar políticos para operar em prol de seus interesses. Isso ocorre por meio de diversos “lobbies” e é comum em várias democracias. Essa é uma lacuna herdada das revoluções burguesas e que formataram modelos democráticos da mesma natureza. Em tese os sistemas herdeiros dessa corrente operam em favor da propriedade privada e não dos interesses populares.

Na obra Levitsky e Ziblatt não chegam nesse ponto da crítica, pois defendem a Constituição estadunidense como uma espécie de salvaguarda da cidadania. No que diz respeito às democracias nos países subdesenvolvidos a cidadania é garantida, porém o acesso às informações e garantia de alguns direitos passa por lugares de privilégio sejam sociais ou financeiros e constituem entraves para a vivencia plena de direitos básicos.

 

*Filósofo