13 DE MAIO DE TODOS OS ANOS
Eduardo Alves
No dia 13 de maio de 1888, a Princesa Dona Isabel, a filha de Dom Pedro
II, assinou a reconhecida – e que já deveria ser muito conhecida – Lei Áurea. A
tal lei, de número 3.353, ela existiu e existe, então assinada viria para
“conceder” a liberdade para todas as pessoas escravas que existiam no Brasil
(dizia-se na época que eram mais de 700 mil) e impedir que novas pessoas fossem
escravizadas. Mas não é da lei que se molda a realidade, mas da vida e das
condições para se viver. Como a vida e as condições para viver são dominadas
por poucos que tomaram o comum (águas, terras e coisas feitas), há
escravizações que acontecem todos os dias, mesmo depois do tal papel, chamado
de lei, ser assinado. Ou seja, pode-se afirmar, sem medo de errar, que a
escravidão não acabou e segue oprimindo com novas formas e desenhos. Por isso –
também – não há o que comemorar no dia 13 de maio. Mas muito o que fazer há.
O modo de produção escravista foi superado pelo modo de produção
capitalista, mas isso, em pensamentos e ações,não superou a escravidão. Tanto
no peso das ideologias dominantes, quanto no peso estrutural da necessária
venda da força de trabalho, as escravidões seguem firme em nosso país. E,
quando se fala de escravidão, fala-se de pessoas que possuem suas vidas
controladas e obstruídas para existirem como vida. Para além da falta total de
liberdade para satisfazer materialmente e espiritualmente as existências dos
corpos, a grande maioria de pessoas padece ainda mais nos dias de hoje com a
genocida política que predomina durante a época da pandemia.
Mais do que gritar em todos os cantos e nas múltiplas dimensões, há
muito o que se fazer. Muito há para que a venda da força do trabalho,
necessária para viver e que escraviza e impõe ao corpo o significado de
mercadoria, ao menos possa existir para todas as pessoas. A quantidade de
pessoas atoladas no não viver do “exército industrial de reversa” amplia as
condições em uma necrodesigualdade sem fim, que chega assustadoramente para um
grande grupo sem casa, sem água, sem acesso a higiene, aos elementos de uma
saúde básica e uma alimentação necessária. Já era um insulto para as pessoas
que pensam quem são, de onde vêm, como vivem e como querem viver a situação em
que ser explorado mantém a vida e sem acesso para exploração a vida não se
mantém. Agora as desigualdades se ampliam para não haver multidão que consiga
conquistar políticas do Estado, seja em que nível for, para equilibrar a
progressiva e agressiva exploração.
Nesse sentido, as pessoas seguem escravizadas e são impostas a perder o
direito de viver e ter o tempo da existência diminuída. A necropolítica que
predomina força uma escravidão cínica por meio da ideologia que chega a
parecer, por meio das mais devastadoras ideologias mentirosas, que
impossibilitam os conhecimentos giraram na vida de todas as pessoas. Há quem
deslize em condições que não são suas e as consiga considerar como qualificadas
assassinar 28 pessoas em uma ação policial criminosa e genocida, como ocorreu
no Jacarezinho neste mês de maio de 2021. Necrodesigualdades que chegam no
patamar de impor a morte matada para pessoas as quais a escravidão é imposta e
no tempo em que seria a vida que deveria existir.
Em todos os sentidos a escravidão predomina das mais variadas formas e
são as pessoas empobrecidas, na grande maioria pretas, uma imensa maioria de
gente que enfrenta grandes obstáculos. As mesmas pessoas que são pessoas que
fazem existir com potência criativa de solidariedade favelas, bairros populares
e toda a periferia existente. Mas também são as mesmas pessoas que mais sentem
o peso do controle, da exploração, das imposições, das limitações impostas pelo
Estado. As mesmas pessoas que sentem as mais duras marteladas para matarem seus
corpos e exterminarem todas as frestas para o viver. Longe de falar de
dignidade humana, pois, nesse cenário de escravização na multidão, na grande
maioria de pessoas, nem o viver, mesmo sem dignidade e com muita exploração, é
impedido.
Pois então, com nada para comemorar, podemos afirmar que há o que
fazer. A superação deste quadro de terror e crueldade só será possível com
grandes focos de organização. Organização para conquistar o acesso a todas as
condições materiais para fazer a vida viver. Organização com potência para
fazer com que o Estado seja para o Bem Viver e para criar frestas que
possibilitem a dignidade humana. Organização para o acesso aos saberes e para
organizar o saber segundo as necessidades e vontade necessária e desejada para
a vida da grande maioria. Organização suficiente para o amanhar ser repleto de
comemorações do fim da escravidão que precisamos conquistar unificados nos dias
de hoje. Para fazer viver a inteligência coletiva nos mobiliza e nos amplia nos
passos UBUNTU em favor da vida.
Assim sendo, que se diga e afirme para todas as pessoas na polifonia das
múltiplas linguagens do entendimento: DIA 13 DE MAIO É PARA LUTAR, ORGANIZAR, AMPLIAR-SE
EM POTÊNCIA E AÇÃO COLETIVA PARA CONQUISTAR A VIDA E A LIBERDADE.
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