quinta-feira, 13 de maio de 2021

 

13 DE MAIO DE TODOS OS ANOS

Eduardo Alves 

 




No dia 13 de maio de 1888, a Princesa Dona Isabel, a filha de Dom Pedro II, assinou a reconhecida – e que já deveria ser muito conhecida – Lei Áurea. A tal lei, de número 3.353, ela existiu e existe, então assinada viria para “conceder” a liberdade para todas as pessoas escravas que existiam no Brasil (dizia-se na época que eram mais de 700 mil) e impedir que novas pessoas fossem escravizadas. Mas não é da lei que se molda a realidade, mas da vida e das condições para se viver. Como a vida e as condições para viver são dominadas por poucos que tomaram o comum (águas, terras e coisas feitas), há escravizações que acontecem todos os dias, mesmo depois do tal papel, chamado de lei, ser assinado. Ou seja, pode-se afirmar, sem medo de errar, que a escravidão não acabou e segue oprimindo com novas formas e desenhos. Por isso – também – não há o que comemorar no dia 13 de maio. Mas muito o que fazer há. 

 O modo de produção escravista foi superado pelo modo de produção capitalista, mas isso, em pensamentos e ações,não superou a escravidão. Tanto no peso das ideologias dominantes, quanto no peso estrutural da necessária venda da força de trabalho, as escravidões seguem firme em nosso país. E, quando se fala de escravidão, fala-se de pessoas que possuem suas vidas controladas e obstruídas para existirem como vida. Para além da falta total de liberdade para satisfazer materialmente e espiritualmente as existências dos corpos, a grande maioria de pessoas padece ainda mais nos dias de hoje com a genocida política que predomina durante a época da pandemia.  

 Mais do que gritar em todos os cantos e nas múltiplas dimensões, há muito o que se fazer. Muito há para que a venda da força do trabalho, necessária para viver e que escraviza e impõe ao corpo o significado de mercadoria, ao menos possa existir para todas as pessoas. A quantidade de pessoas atoladas no não viver do “exército industrial de reversa” amplia as condições em uma necrodesigualdade sem fim, que chega assustadoramente para um grande grupo sem casa, sem água, sem acesso a higiene, aos elementos de uma saúde básica e uma alimentação necessária. Já era um insulto para as pessoas que pensam quem são, de onde vêm, como vivem e como querem viver a situação em que ser explorado mantém a vida e sem acesso para exploração a vida não se mantém. Agora as desigualdades se ampliam para não haver multidão que consiga conquistar políticas do Estado, seja em que nível for, para equilibrar a progressiva e agressiva exploração. 

Nesse sentido, as pessoas seguem escravizadas e são impostas a perder o direito de viver e ter o tempo da existência diminuída. A necropolítica que predomina força uma escravidão cínica por meio da ideologia que chega a parecer, por meio das mais devastadoras ideologias mentirosas, que impossibilitam os conhecimentos giraram na vida de todas as pessoas. Há quem deslize em condições que não são suas e as consiga considerar como qualificadas assassinar 28 pessoas em uma ação policial criminosa e genocida, como ocorreu no Jacarezinho neste mês de maio de 2021. Necrodesigualdades que chegam no patamar de impor a morte matada para pessoas as quais a escravidão é imposta e no tempo em que seria a vida que deveria existir. 

 

Em todos os sentidos a escravidão predomina das mais variadas formas e são as pessoas empobrecidas, na grande maioria pretas, uma imensa maioria de gente que enfrenta grandes obstáculos. As mesmas pessoas que são pessoas que fazem existir com potência criativa de solidariedade favelas, bairros populares e toda a periferia existente. Mas também são as mesmas pessoas que mais sentem o peso do controle, da exploração, das imposições, das limitações impostas pelo Estado. As mesmas pessoas que sentem as mais duras marteladas para matarem seus corpos e exterminarem todas as frestas para o viver. Longe de falar de dignidade humana, pois, nesse cenário de escravização na multidão, na grande maioria de pessoas, nem o viver, mesmo sem dignidade e com muita exploração, é impedido. 

 Pois então, com nada para comemorar, podemos afirmar que há o que fazer. A superação deste quadro de terror e crueldade só será possível com grandes focos de organização. Organização para conquistar o acesso a todas as condições materiais para fazer a vida viver. Organização com potência para fazer com que o Estado seja para o Bem Viver e para criar frestas que possibilitem a dignidade humana. Organização para o acesso aos saberes e para organizar o saber segundo as necessidades e vontade necessária e desejada para a vida da grande maioria. Organização suficiente para o amanhar ser repleto de comemorações do fim da escravidão que precisamos conquistar unificados nos dias de hoje. Para fazer viver a inteligência coletiva nos mobiliza e nos amplia nos passos UBUNTU em favor da vida.  

 Assim sendo, que se diga e afirme para todas as pessoas na polifonia das múltiplas linguagens do entendimento: DIA 13 DE MAIO É PARA LUTAR, ORGANIZAR, AMPLIAR-SE EM POTÊNCIA E AÇÃO COLETIVA PARA CONQUISTAR A VIDA E A LIBERDADE.

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