domingo, 30 de maio de 2021

O golpe de 2016 e o Bolsonaro fizeram a vacinação virar uma zona

 

Crédito de imagem CAROL ÂNGELO


POR SYLVIO DA COSTA JUNIOR


O Brasil tem experiência em largos e amplos programas nacionais de vacinação desde 1973. A Política Nacional de Vacinação (PNI) é um dos muitos exemplos exitosos do SUS, que teve o mérito de eliminar do país a Poliomielite e a Varíola, ou ainda que, em 2010, vacinou 100 milhões de pessoas em três meses contra a H1N1. Historicamente o Ministério da Saúde (MS) se compromete com a organização das grandes campanhas nacionais de vacinação, porém desde o golpe de 2016 contra Dilma vimos a olhos vistos o MS se envolver em um show de trapalhadas, das mais variadas, que causam sofrimento e morte a milhares de brasileiros.


Em 2018, no governo do usurpador Michel Temer, o MS orientou o fracionamento de doses de Febre Amarela por falta de vacinas. A Febre Amarela (FA) é uma doença transmitida por um mosquito muito comum no Brasil, o mesmo da Dengue, e apresenta uma das mais altas taxas de letalidade entre as arboviroses: em torno de 50%. Isso mesmo, metade de quem pega Febre Amarela morre.  Posto isto, entre 2017 e 2018, durante o Governo Temer, vimos um aumento dos casos de FA, principalmente nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Nesse cenário, o MS orientou o fracionamento das doses, ou seja, aplicar 1/5 da dose recomendada pela Organização Mundial de Saúde (OMS): o que deveria ser de 0,5 ml do soro passou a ser de 0,1 ml. Uma dose normal agora passou a ser usada em até cinco pessoas. Motivo? Não tinha vacina suficiente! Simples assim. Foi realizada essa campanha de vacinação sem informações precisas sobre a segurança ou o tempo de imunização da vacina.


Já no Governo Bolsonaro, o MS ficou sob cuidados do privatista Mandetta, do empresário da saúde Teich e do pior ministro da saúde da História, o desqualificado general trapalhão Pazuello. Na falta de orientação do Ministério da Saúde, vários municípios no final do mês de abril, como o Rio de Janeiro, que concentra sozinho mais de 6,5 milhões de habitantes, tiveram a desastrada idéia de vacinar a população com o máximo de doses disponíveis - diferente da orientação dos institutos produtores de vacinas para aplicarem a primeira dose e guardarem a metade das doses que receberam para garantir a segunda dose em todos que ali haviam se vacinado. Baseados em achismo e com forte irresponsabilidade, vários gestores municipais aplicaram o lote total de vacinas, sem a devida guarda para segunda dose. Assim, com o atraso da entrega de mais doses, não só o calendário vacinal atrasou, como também houve um prolongamento entre as doses que ainda não sabemos qual resultado clinico terá na população. Na falta de orientação e segurança nas posições do Ministério da Saúde, os gestores se sentem à vontade para fazerem a vacinação da forma que lhes vier à cabeça.


A bagunça é tão grande que no dia 15 de maio o Instituto Butantã anunciou que pararia por completo a produção da vacina Coronavac por falta de insumos, e o mesmo aconteceria com a Fiocruz em relação à produção da vacina AstraZeneca/Oxford. Não bastasse essa informação preocupante, na mesma semana fomos surpreendidos com o anúncio de que o Comitê Olímpico Internacional (COI), com a anuência do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), vacinará atletas para as disputas dos Jogos Olímpicos de Tóquio daqui a dois meses. Em um momento em que faltam vacinas, que a produção nacional de vacinas está parada e sem previsão de retorno, com milhões de brasileiros sem a segunda dose da vacina, uma segunda porta de acesso é criada para vacinar jovens atletas para uma competição que nem deveria estar acontecendo. Foi largamente anunciado que no Dia das Mães as famílias não deveriam confraternizar fisicamente juntas para evitar a propagação do vírus, porém, por motivos comerciais, não só as aglomerações e viagens internacionais acontecerão, mas foi criada outra porta de entrada para vacinação.


Nesse cenário de descaso e fazendo a vacinação virar um circo de horrores, chegamos no dia 16 de maio a 435 mil mortos por Covid, o equivalente a mais de duas vezes os mortos pelas bombas atômicas que os Estados Unidos jogaram no Japão, país sem armas nucleares e que já tinha assinado rendição antes das bombas norte-americanas. O golpe de 2016 não apenas gerou uma anarquia política no país como também uma montanha de cadáveres e mortes evitáveis, caso houvesse seriedade com o Sistema Público de Saúde e seus programas. Desde 2016, quando o Ministro Ricardo Barros, do PP, assumiu o Ministério, até os dias atuais, temos visto a forma displicente e irresponsável com a qual cargos técnicos foram ocupados quer por militares sem qualquer qualificação para o cargo, quer por políticos do Centrão, como pagamento pelo golpe 2016 e para garantir a governabilidade do Governo Bolsonaro. Vimos nesses anos situações bizarras, como assessor parlamentar do Centrão e dono de bar assumir a Coordenação Nacional de Saúde Bucal, como a “capitã cloroquina” assumir a Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde, ou um dono de curso de inglês ser consultor informal para assuntos de Saúde Pública, ou ainda um ministro especialista em Logística mandar as vacinas destinadas ao estado do Amazonas para o estado do Amapá e a do estado do Amapá para o Amazonas. A vacinação na pandemia apenas deixou exposta essa leviandade que já existia desde 2016. Tudo isso seria cômico se não tivesse impacto direto nas vidas das pessoas. O Bolsonaro é um dos grandes responsáveis, mas não o único; todos os golpistas têm suas digitais na esculhambação que virou o Ministério da Saúde e o cuidado com a vida dos brasileiros.


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