domingo, 30 de maio de 2021

O meio: um ambiente inteiro

 

Crédito da imagem CACINHO


POR EDUARDO ALVES 


Quando o filme Matrix foi apresentado, em 1999, e as coisas - máquinas e tecnologias digitais - todas criadas por pessoas sapiens, mostraram o mundo destruído, sacudiu-se uma aflição generalizada. Aquilo era o mundo aguardado? Ou poderia ainda ser pior a fotografia? Agora, chegamos em 2021 em uma velocidade tétrica de morte e destruições. Estamos nós, sapiens, potencialmente destruidores, em um processo de exterminar o que tem vida e não é coisa. O ambiente inteiro, do qual nós sapiens fazemos parte, sofre a decadência de um necrocapitalismo necrosado em pensamentos e ações. Sentimentos esmagados por um meio que a morte e as doenças que ameaçam a vida andam em um tapete estendido pela política da destruição organizada por setores sociais que, em nome do lucro, abandonaram a vida das outras pessoas. São justamente as pessoas, que são ontologicamente potentes para a criação em sua grande maioria, as que mais padecem em vida e sem vida.

 

Atenção!  5 de junho é o Dia Mundial do Meio Ambiente e esse futuro próximo se anuncia no mesmo dia em que os sentidos fazem o corpo, ainda vivo biologicamente, padecer quando aparece a informação de que foram dizimadas mais de 450 mil pessoas no Brasil. O pessimismo da razão, em análises socio-históricas, amarga ainda mais. O genocídio que predomina no mundo destrói o ambiente inteiro e sapiens são parte desse ambiente que é destruído cada vez mais para o lucro, ao mesmo tempo que é organizado com mentiras e atitudes autoritárias de controles e opressões diversas. Radicalizar a democracia em todos os aspectos é mais que necessário para se manter, comer, morar, sonhar, agir e viver.

 

Nós, homens e mulheres, sapiens, vivos, temos o desafio de impor outra ordem para que o viver exista. Um ambiente inteiro nos chama atenção para que transformações da natureza e multiplicação do comum não sejam sinônimos ideológicos de destruição. Não há transformação para sustentar materialmente e espiritualmente as pessoas, quando todos os elementos vivos são grosseiramente destruídos para a mercadoria emplacar o capital. Quando o lucro é colocado acima de todas as coisas a vida padece no pior encontro com a inexistência. As necrologias que ampliam os termos políticos para tratar do decrépito capitalismo e das mais opressoras formas de poder são obstáculos para tudo que faz jorrar a vida. A dignidade humana inexistente é uma demonstração óbvia desse absurdo cronológico que amplia exploração, dominação, destruição e controle autoritário, com a necroversão mais dolorosa.

 

O que é chamado de Meio Ambiente é um ambiente inteiro, que combina o grande comum – águas, florestas, terras e minerais, seres sencientes ou não sencientes, sapiens – usurpado por um pequeno número de pessoas. O mesmo pequeno em quantidade numérica que se apropriou da grande maioria de sapiens e forçou que o objeto mercadoria, que é transformada a força de trabalho, tomasse a vida. Mas nós, que só temos a força de trabalho para viver e só podemos viver ao vender essa mercadoria, não somos coisas.

 

Como inicia o poeta em Tabacaria, “Não sou nada. Nunca serei nada. Não posso querer ser nada. À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo”. Ou seja, nós sencientes, humanos, somos potenciais construtores da potência criativa. Somos nós as pessoas que podem se construir, pensar e agir como sujeitos que fazem a vida rodar, viver e valer. Nós somos tudo e fazemos parte do ambiente inteiro com o grande desafio de conquistar a vida com a mais ampla e plena dignidade em todos os aspectos e em todas as dimensões. Na relação entre pessoas para produzir, transformar a natureza, criar para além do natural e dar sentido ao viver, nós somos sujeitos fundamentais para pensar e fazer. 

 

Portanto, o Dia Mundial do Meio Ambiente é o nosso dia para crescer, aprender, construir a inteligência coletiva e fazer o comum viver. Não transformamos comum em natural, pois, temos nós a consciência que as relações socio-históricas podem conquistar um mundo de ampliação e superar esse mundo de destruição, exploração e guerra que nos é imposto. Vamos fazer acontecer a vida e nesse dia emblemático viver!

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