quarta-feira, 15 de dezembro de 2021

POR QUE DEVEMOS NOS ENVOLVER COM AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS E FICAR DE OLHO NA REALIZAÇÃO DA COP 26? - PARTE 2

Por Angelo José Rodrigues Lima

No primeiro artigo sobre o tema, tratamos de explicar o que são mudanças climáticas e o que são e para que servem as Conferência das Partes (COPs).

Neste artigo, antes de tratarmos das metas e objetivos da COP 26, é importante deixar claro que toda a sociedade brasileira e mundial deve se envolver com este tema porque as mudanças climáticas já são uma realidade e estão impactando enormemente a vida das pessoas e ampliarão ainda mais os problemas sociais, econômicos e ambientais do Brasil e do Mundo.

Em segundo lugar, em um país e um mundo com tamanha desigualdade social e econômica, as mudanças climáticas irão ampliar estas desigualdades e continuar impactando as populações mais vulneráveis social e economicamente falando.

Portanto, devemos nos envolver, porque as mudanças climáticas e as COPs estão relacionadas com a nossa qualidade de vida.


E as metas da COP 26? Quais eram?

Considerando os vários estudos realizados e apresentados pelos diversos relatórios elaborados pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) que é o órgão científico para assessorar a realização das Conferências, segundo o artigo “Quais são as metas da COP26 e o que elas representam na atualidade”**, as metas eram:

1. Promover a rede zero global em meados do século 

A redução de emissões será um dos principais pontos abordados. A meta é que os governos apresentem estratégias de impactos positivos para diminuir os gases poluentes até 2030 e alcançar emissões líquidas zero até 2050. Outra questão é a diminuição do aquecimento global e a manutenção de 1,5 grau de aumento ao alcance até o final do século, já que a previsão na conferência em Paris, era atingir bem acima de 3 graus até 2100. Segundo a agenda oficial do evento, para que isso aconteça, os países precisarão de:

    • Acelerar a eliminação do carvão;

    • Reduzir o desmatamento;

    • Acelerar a mudança para veículos elétricos;

    • Expandir o mercado de crédito de carbono;

    • Incentivar o investimento em energias renováveis.

2. Adaptar-se para proteger as comunidades e habitats naturais

As mudanças climáticas vêm causando retrocessos para a sociedade e a biodiversidade. A frequência de temperaturas extremamente elevadas, incêndios ocasionados por secas e o aumento das doenças respiratórias são alguns dos episódios alarmantes que têm ocorrido. Espera-se que, na COP26, iniciativas sejam desenvolvidas para mitigar os prejuízos a curto prazo e que os países produzam uma comunicação de adaptação com as práticas e planejamentos. Para isso, os governos devem:

    • Favorecer a adaptação aos efeitos da mudança climática;

    • Proteger e restaurar ecossistemas;

    • Construir defesas e sistemas de alerta;

    • Infraestrutura resiliente e agricultura para evitar a perda de casas;

    • Meios de subsistência e qualidade de vida.

3. Mobilizar finanças 

Segundo o plano de ação da COP26, para que as duas primeiras metas sejam de fato concretizadas, é necessário que os países cumpram a promessa de "mobilizar pelo menos US $100 bilhões em financiamento climático por ano", imposta na última conferência realizada em 2015. Além disso, também precisam investir e promover finanças sustentáveis. Toda decisão financeira precisa levar em consideração o clima, expandindo:

    • Alianças entre empresas e investidores;

    • Cadeias de suprimentos resilientes;

    • Parcerias com o terceiro setor;

    • Financiamento dos setores público e privado aos países mais pobres e a cooperação internacional.

4. Trabalhar juntos

Por fim, para que a agenda seja efetiva é fundamental que os países trabalhem juntos. A colaboração deve moldar os resultados, acordos e negociações entre governos, empresas e a sociedade civil. Espera-se que além dos planos estratégicos contra as mudanças climáticas, parcerias sejam feitas entre os países e soluções estipuladas. Para isso, é preciso:

    • Garantir que a voz de todos seja ouvida;

    • Ter transparência e transformar ambição em ação;

    • Incentivar todos os países a cumprir seus compromissos;

    • Finalizar o Livro de Regras de Paris (as regras detalhadas que tornam o Acordo de Paris operacional).


Quais foram as metas alcançadas na realização da COP 26?

Para uma grande maioria de especialistas e ambientalistas, a principal avaliação dos resultados alcançados pela COP 26 realizada agora em novembro de 2021, é de que as metas estabelecidas são insuficientes para dar conta dos impactos das mudanças climáticas.

Por exemplo, em relação aos recursos estabelecidos, o rascunho do acordo prevê US$ 100 bilhões até 2023 para ações contra as mudanças climáticas em países em desenvolvimento. Este valor é o mesmo previsto no acordo de 2009, que não foi cumprido e hoje é visto como insuficiente, pois os problemas só aumentaram de 2009 para 2021.

Segundo, por exemplo, Carlos Nobre, “os países ricos têm colaborado muito pouco”.

Outra questão apontada por Nobre, “é que o Brasil apresentou metas desafiadoras na COP-26 e precisa “de um gigantesco esforço” para cumpri-las. O País se comprometeu a zerar o desmatamento ilegal até 2030 e reduzir as emissões de carbono e metano. As metas, porém, foram recebidas com desconfiança devido às posturas do governo na COP de 2019, que foi um entrave para as negociações”.


Que acordo, podemos dizer significativo, foi alcançado na COP 26?

Para não ficar somente dizendo que as metas foram insuficientes, a COP 26, enquanto não apresentou metas de corte de emissões compatíveis com o Acordo de Paris, líderes de mais de uma centena de países assinaram na COP26, em Glasgow, documentos em que se comprometem a deter a derrubada de florestas e a reduzir em 30% as emissões de metano até 2030.

Talvez, este seja o único ponto positivo da COP 26.


Por que seria importante e urgente chegar a um acordo substancial de redução de metas na COP 26?

Porque estamos atrasados. A ciência aponta os riscos há décadas e o último relatório do IPCC é a continuidade disso. Não falamos mais do que pode acontecer, mas do que já ocorre e do que precisamos fazer para tentar impedir que se agrave. Passar de 1,5° C de elevação de temperatura será terrível. Para evitar que isso aconteça, teríamos que reduzir as emissões em 50% até o fim desta década.


Qual a posição da sociedade? 

Primeiro, todos nós que trabalhamos com a questão ambiental, científica, etc; precisamos cada vez mais popularizar a discussão sobre o tema, incluindo a questão das mudanças climáticas.

O Brasil e o Mundo já têm um passivo ambiental, social e econômico bastante suficiente para sabermos que temos de agir, os relatórios do IPCC e outros relatórios no Brasil, como o caso dos relatórios do MAP Biomas, apontam o aumento do desmatamento dos biomas brasileiros; por exemplo, foram derrubadas 24 árvores por segundo em 2020 e a perda de 15,7% da superfície de água no Brasil.

Além disso, com a concentração de renda aumentando, temos cada vez mais uma economia voltada somente para os mais ricos, com isso, aumenta o desemprego no Brasil e o mapa da fome, portanto, sem emprego e com fome.


Como a grande maioria da sociedade irá tratar do tema ambiental e das mudanças climáticas?

É fundamental que saibamos demonstrar que tudo está interligado, ou seja, o aumento da desigualdade, o aumento da fome, termos crise hídrica e energética, termos as mudanças climáticas, acontecem pelo fato de termos um modelo de desenvolvimento que foca apenas no crescimento econômico e não no desenvolvimento humano e na sustentabilidade ambiental, social e econômica.

No centro do debate para resolvermos isso, está o modelo de desenvolvimento. A sociedade precisa ser convocada e mobilizada não só para enfrentar as questões pontuais, mas especialmente para tratar sobre qual o modelo de desenvolvimento nós queremos.

É preciso ficar claro que caso não consigamos discutir o modelo de desenvolvimento, só conseguiremos correr atrás do prejuízo, ou seja, não resolveremos os desafios de acabar com a fome, com o desemprego e os impactos das mudanças climáticas.

O modelo de desenvolvimento é o centro do debate para de fato resolvermos a questão da fome, das mudanças climáticas, do aumento do desemprego e de tantos outros que temos até hoje.


DEZEMBRO DE 2021


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

** Artigo pode ser acessado pelo link: https://origoenergia.com.br/blog/quais-as-metas-da-cop26

https://www.ipcc.ch/report/ar6/wg1/downloads/report/IPCC_AR6_WGI_Full_Report.pdf - último relatório do IPCC.

https://s3.documentcloud.org/documents/21097010/global_methane_pledge_final_text79.pdf

https://ukcop26.org/glasgow-leaders-declaration-on-forests-and-land-use/

https://mapbiomas.org/superficie-de-agua-no-brasil-reduz-15-desde-o-inicio-dos-anos-90 

https://mapbiomas.org/pais-perdeu-24-arvores-por-segundo-em-2020



 

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