*Angelo José Rodrigues Lima
Este ano teremos eleições para presidente, senador, deputado federal, governador e deputado estadual no momento que alguns países de mundo estão em guerra.
No momento não é só a guerra entre a Rússia e a Ucrânia que está acontecendo; Israel, EUA e Arábia Saudita também estão atacando a Síria, Somália e Iêmen.
Segundo o Projeto de Dados de Localização de Conflitos Armados (Acled – sigla em inglês- https://acleddata.com/#/dashboard), pelo menos 28 países passam por conflitos ou registraram combates armados neste início de 2022.
Não entraremos aqui no debate sobre estas guerras, mas uma coisa precisamos refletir, haverá paz se ela for seletiva?? Existe justiça se ela é seletiva? Existirá qualidade de vida para todos e todas, se as políticas públicas forem seletivas?
É a mesma coisa que devemos pensar para brasileiros e brasileiras: Haverá qualidade de vida se tivermos um governo federal e estadual, senadores(as), deputados(as) estaduais e federais, favorecendo apenas aos setores econômicos que já têm renda para garantir uma qualidade de vida?? Me parece que não.
Mas é isso que está acontecendo agora no Brasil. Temos um Governo Federal e governos estaduais e uma grande maioria de deputados federais e, em alguns Estados, deputados estaduais, legislando em favorecimento de poucos.
Estão desmantelando a gestão ambiental para favorecer o agronegócio; estão aprovando leis para beneficiar indústrias da mineração e dos agrotóxicos; liberaram venenos para serem aplicados nos alimentos; estão autorizando que áreas de proteção de rios sejam ocupadas pela especulação imobiliária; fizeram mudanças na legislação trabalhista e previdenciária que beneficiaram poucos, enfim, estão diminuindo cada vez mais a possiblidade de termos qualidade de vida.
Exatamente no momento que o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC – sigla em inglês) no lançamento do seu último relatório** diz: “As mudanças climáticas ameaçam o bem-estar da humanidade e a saúde do planeta. Somente medidas imediatas podem garantir nosso futuro”.
Mas será que as mudanças climáticas afetarão todos igualmente??
O relatório já responde essa pergunta, quando apresenta que, “cerca de 3,3 bilhões de pessoas vivem em países com alta vulnerabilidade à crise climática, com impactos maiores sobre aqueles que sofrem com questões relacionadas à desigualdade, saúde, educação, crises financeiras, falta de capacidade de governança e infraestrutura”.
E que “vidas e lares foram perdidos em todo o mundo, mas em países com maior situação de vulnerabilidade, a mortalidade por inundações, secas e tempestades foi 15 vezes maior na última década, em comparação com países com vulnerabilidade baixa”
O relatório ainda aponta que as cidades, pelo modelo de ocupação e a falta de política habitacional para as populações mais vulneráveis representam um grande risco para a perda de mais vidas, vide o que podemos lembrar das tragédias nas cidades da Bahia, Minas Gerais e mais recentemente em Petrópolis (RJ).
A seletividade na busca pela paz, a seletividade na Justiça e a seletividade para benefício de poucos, nos leva à seletividade na qualidade de vida. Somente poucos terão acesso à água, saúde, saneamento, habitação, enfim, somente poucos terão direito à uma vida digna.
Portanto, nestas eleições, não se deixe levar pelo imediato. Só garantiremos qualidade de vida para todos e todas, se escolhermos candidatos e candidatas em todos os cargos das eleições de 2022, que tenham história na construção de políticas coletivas, de políticas que beneficiem a maioria e que garantam a defesa da democracia.
Além disso, quanto mais a sociedade brasileira for organizada e discuta política, poderemos conquistar direitos para todos e todas, pois em uma democracia, além de votar, precisamos nos organizar para pressionarmos os governos federal e estaduais, senadores(as), deputados(as) federais e estaduais.
E no momento de emergência climática que estamos vivendo, é fundamental que os candidatos se comprometam com políticas públicas construídas de forma participativa e integradoras. Não basta somente trabalhar com política habitacional dissociada de onde implantar as casas populares; é preciso que as casas populares sejam instaladas em uma área que não coloque as pessoas em risco.
As tragédias nas cidades da Bahia, Minas Gerais e em Petrópolis, têm relação direta com a falta de implementação de políticas públicas integradas, articuladas e construídas junto com a sociedade.
Imaginemos como se sente o ministro da pequena Tuvalu por termos um mundo seletivo. Quem além dos seus habitantes e governantes deste pequeno país se preocupam com ele?
Tanto é assim, que o ministro de Tuvalu, para chamar a atenção sobre a ilha, fez um discurso dentro do mar, pois as Ilhas de Tuvalu estão completamente ameaçadas pelas mudanças climáticas.
Percebam como ninguém e nenhum país do mundo deve e pode ser tratado de forma seletiva.
Nestas eleições, não deixemos ninguém para trás.
Votemos pela democracia, pela Justiça para todos, pelo fim da desigualdade social e econômica, pela integração das políticas públicas e pela construção de um modelo de desenvolvimento que coloque a questão social e ambiental como princípio para discutir a questão da economia; as vulnerabilidades sociais, econômicas e ambientais, pedem esse caráter de urgência.
"O ministro de Tuvalu, uma das ilhas que correm o risco de desaparecer devido as alterações climáticas, fez discurso dentro do mar para alertar os líderes da última conferência do clima, em Glasgow. Tuvalu é um país da Oceania. Tuvalu é um Estado da Polinésia formado por um grupo de nove ilhas e atóis, antigamente chamado Ilhas Ellice. Foto: divulgação.
*Pesquisador Sócio ambientalista.
** https://www.ipcc.ch/assessment-report/ar6/ - Relatório do IPCC em inglês
https://www.ipcc.ch/site/assets/uploads/2022/02/PR_WGII_AR6_spanish.pdf - Um resumo do relatório em espanhol.
Sem comentários:
Enviar um comentário