Por Claudia de Abreu*
A 1ª Conferência Nacional da Classe Trabalhadora (Conclat) foi em 1981. Foi o maior encontro de militantes sindicais realizado no país, a primeira tentativa de articulação nacional dos trabalhadores após a ditadura. Foram mais de 5 mil pessoas, representando mais de mil entidades sindicais brasileiras. Foi o berço da eleição da Comissão Nacional Pró-CUT, que trabalhou para a fundação da central em 1983.
A Conclat de 2022 foi anunciada em fevereiro como um momento de união de todas as centrais brasileiras: Central Única dos Trabalhadores (CUT), Força Sindical, União Geral dos Trabalhadores (UGT), Central de Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Nova Central Sindical de Trabalhadores (NCST), Central de Sindicatos do Brasil (CSB), Intersindical Central da Classe Trabalhadora, CSP CONLUTAS, Pública, Central do Servidor e Intersindical Instrumento de Luta. Um espaço para elaboração de uma pauta nacional de resistência dos trabalhadores em um momento de fortes ataques. E que deveria fomentar ações de debate e mobilização.
Ela foi anunciada amplamente nas mídias das centrais sindicais quando a proposta foi lançada, em fevereiro de 2022, mas depois sumiu do noticiário sindical da maioria das centrais.
Divulgada como um momento de união e resistência da classe trabalhadora em toda sua diversidade ideológica, teria no dia 7 de abril seu ápice, com o lançamento de uma proposta construída coletivamente em defesa da geração de empregos com direitos, de proteções sociais e previdenciárias, em defesa da democracia, da soberania e da vida.
Apesar da importância política da iniciativa, nem todas as centrais valorizaram o assunto em suas mídias. Chama a atenção que o site da Força Sindical tenha mais publicações sobre a Conclat do que a CUT, que falou sobre a importância da Conclat em fevereiro e só retomou o assunto em abril. A Publica, central que assinou a convocação e participou do evento, publicou a convocação de fevereiro, mas depois o assunto não foi mais lembrado nem pela ocasião do lançamento do documento.
A Conclat não reuniu sequer a totalidade das centrais que a convocaram. Realizada de forma híbrida, presencial e virtual, teve a presença de 500 pessoas em um auditório no bairro Liberdade, em São Paulo. Todas as centrais presentes — CSB, UGT, Intersindicais, Pública, Nova Central, Força Sindical, CUT e CTB — afirmaram que “a prioridade da classe trabalhadora é derrotar Bolsonaro”. A Conlutas divulgou nota três dias antes do evento, dizendo que não participaria mais. “Será um encontro da cúpula sindical, de duas horas, limitado na representação e que não apresentará nenhum plano de lutas, apenas uma plataforma de governo aos candidatos(as), visando colocar todo o movimento sindical a reboque do calendário eleitoral.”
De fato, o evento se limitou às falas dos presidentes das centrais e a apresentação do documento. A oportunidade de organizar uma agenda de lutas foi desprezada.
O documento foi entregue pelos representantes das centrais sindicais ao candidato a presidente Lula no dia 14 de abril, que compareceu ao evento junto com Geraldo Alkmin. Nos discursos, o ex-presidente se comprometeu em abrir uma mesa de negociação permanente com os trabalhadores se eleito. E o ex-governador de São Paulo disse que o evento era “histórico” e que “A luta sindical deu ao Brasil o maior líder popular deste país”.
Porém, três dias antes, Lula teve uma reunião com a CUT nacional, divulgada pela própria central, na qual recebeu uma pauta com propostas para a classe trabalhadora. A divulgação do evento, às vésperas do Conclat, criou um mal-estar no meio sindical e críticas vieram depois até de Lula, que declarou ser importante receber uma pauta unificada e não uma por central. A presidente do PT, Gleisi Hofmann, também se posicionou no mesmo dia sobre a importância da unidade das centrais.
O documento aprovado pelas centrais orienta a realização de encontros estaduais e regionais, após a Conclat, para definir ações e propostas locais e a construção de pautas unitárias locais, complementares à nacional, para serem entregues aos candidatos aos executivos e legislativos nos estados.
Não há muito o que esperar de um processo político tão verticalizado. Seria importante a regionalização deste debate, mas visando à organização dos trabalhadores para as lutas que se avizinham, independente do resultado eleitoral. Ainda que o candidato que está à frente das pesquisas ganhe de fato, as alianças que estão sendo feitas mostram que o governo vai precisar de pressão para cumprir compromissos com a classe trabalhadora.
É importante que os sindicatos assumam o protagonismo da resistência à precarização. Mais do que impedir novos retrocessos, é importante avançar na revogação da reforma trabalhista e de outros direitos confiscados.
A pauta divulgada:
* Jornalista, militante dos ComuniCativistas e do Coletivo Jornalistas em Luta. Membro da Comissão Nacional de Ética dos Jornalistas.
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