domingo, 1 de maio de 2022

O que cada um de nós pode ou deve fazer pela natureza?

*Angelo José Rodrigues Lima

Em algumas vezes nos deparamos com este questionamento: O que cada um de nós pode ou deve fazer pela natureza? Em defesa das florestas? Das Águas? Contra às mudanças climáticas?

É certo que o que podemos ou devemos fazer individualmente é pouca coisa. Porém, mesmo assim, é muito importante pois desta forma aprendemos a ser mais solidários, pois, por exemplo, se abusamos do uso da água em uma região que tem pouca água, pode faltar para outra pessoa que também precisa da água.

A atitude individual e dentro de uma família é importante para refletirmos sobre o consumo e desperdício de alimento quando este acontece, porém, no caso dos alimentos, e relacionando com a desigualdade social e econômica, temos um conjunto de brasileiros e brasileiras que infelizmente desperdiçam alimentos e consomem mais do que o necessário, enquanto muitos outros brasileiros e brasileiras, sequer tem o de comer.

Na questão da água, é preciso lembrar que ainda temos oficialmente 35 milhões de brasileiros sem acesso à água potável.

Portanto, com a desigualdade existente, as atitudes individuais e pelas famílias são diferenciadas. É muito difícil pedir à uma pessoa que ela economize água, se ela sequer tem água, mas é possível pedir a quem tem água em casa todos os dias para economizar o uso.

Mas então o que devemos e podemos fazer?

A saída não pode ser somente individual. É com a atitude coletiva que podemos obter mais resultados.

Portanto, a primeira saída coletiva é a sociedade brasileira ser cada vez mais organizada, valorizar os espaços de discussão coletiva dos desafios e problemas de um bairro, de uma região, da cidade, do Estado e, em seguida, do país.

A partir desta discussão e construção coletiva de propostas para enfrentar os desafios para garantir qualidade de vida para todos e todas, ganha amplitude e a possibilidade de resolução dos problemas.

Alguns podem não se lembrar da explosão de criação de Associação de Moradores de Bairros que conseguiam reunir moradores e moradoras para discutir os problemas de um determinado bairro e em vários casos, conseguindo sucesso nas soluções dos problemas e o determinante disso, era que a Associação falava em nome da coletividade.

Outro exemplo que demonstra que a atitude é principalmente coletiva.

Quando acima falamos da questão da água, é claro que cada um de nós, quando temos acesso à ela podemos e devemos, por exemplo, tomar banho em um tempo menor, não usar a água tratada para lavar o carro, etc.

Mas como falarmos somente das atitudes individuais e por família, sem deixar de tratar de termos uma atitude coletiva com relação ao maior uso da água no Brasil, que é para a agricultura e pecuária.

70% da água existente no Brasil é utilizada na agricultura e na pecuária, portanto devemos coletivamente discutir e construir políticas para uma maior eficiência do uso da água nesses setores, inclusive porque, além do grande uso, eles têm uma média de 30% de desperdício no uso da água.

Em relação á alimentação, para além da saída individual, ela também precisa ser coletiva, pois, de um lado, coletivamente temos que resolver o problema da desigualdade para que toda a população brasileira tenha garantido o acesso à no mínimo três refeições por dia e com qualidade; de outro, é fundamental discutir o desperdício por parte daqueles que fazem isso.

Portanto, seja pelos desafios sociais, econômicos, ambientais e das mudanças climáticas, possivelmente só os resolveremos se coletivamente a sociedade se organizar, conhecer, debater e construir políticas para enfrentar estes desafios.

Com as mudanças climáticas, isto fica cada vez mais claro, cada país deve fazer o seu dever de casa para que as ações de cada país, somadas com as ações dos outros países, se torne uma ação coletiva para de fato termos resultados.

De qualquer forma, para que cada país faça o seu dever de casa, isto provavelmente só irá acontecer com resultados significativos, se coletivamente a sociedade se organizar, pressionar e cobrar para que os gestores tomem as atitudes necessárias.

* Biólogo, pesquisador e socioambientalista. 

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